Investigação e determinação da susceptibilidade antimicrobiana de potenciais uropatógenos gram-negativos resistentes a ciprofloxacina em um esgoto doméstico da cidade de Divinópolis-MG

Resumo

As infecções do trato urinário (ITUs) são comuns na prática clínica e bactérias gram-negativas da ordem Enterobacteriales, destacando Escherichia coli, Klebsiella spp., Enterobacter spp., Proteus spp., e gram-negativas não fermentadores de glicose são os principais uropatógenos. O tratamento das ITUs geralmente é instituído de forma empírica utilizando fluoroquinolonas, mas a resistência bacteriana a esses fármacos vem aumentando. Espécies potencialmente uropatogênicas podem fazer parte da microbiota humana e animal e chegam aos esgotos, onde são menos estudadas. Este trabalho teve como objetivo investigar a presença de potenciais uropatógenos gram-negativos resistentes a ciprofloxacina, bem como determinar o perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos, em amostra coletada em um esgoto doméstico em drenagem espontânea em uma cidade da região centro-oeste de Minas Gerais. Um litro de esgoto foi coletado e 100 µL da amostra (diluído e bruto) foram inoculados em caldo infuso cérebro e coração e, posteriormente, em ágar MacConckey suplementados com 4 µg/mL de ciprofloxacina. Para a identificação dos isolados foram utilizadas provas bioquímicas-fisiológicas e ágar cromogênico. O perfil de susceptibilidade dos isolados foi determinado pelo método de disco-difusão, e a produção de betalactamase de espectro estendido (ESBL) foi investigada fenotipicamente. Um total de 31 isolados gram-negativos resistentes a ciprofloxacina foi recuperado, todos pertencentes a ordem Enterobacteriales: E. coli (n = 27), Klebsiella pneumoniae (n = 2), Klebsiella oxytoca (n = 1) e Pantoea agglomerans (n = 1). O perfil de susceptibilidade revelou alta taxa de resistência entre esses isolados para sulfametoxazol-trimetoprima (77,4%), amoxicilina/ácido clavulânico (48,4%), aztreonam (25,8%) e fosfomicina (22,5%). Dentre os 31 isolados Enterobacteriales, oito (25,8%) foram ESBL-positivos. Os dados obtidos revelam que potenciais uropatógenos resistentes a ciprofloxacina circulam fora do ambiente clínico e por estarem em esgoto podem chegar aos cursos d’água, constituindo um risco a saúde da população.