Resumo
A utilização de psicofármacos cresceu tanto nos últimos anos que se tornou reconhecidamente um problema de saúde pública mundial e levou à popularização da expressão “medicalização da vida”. Investigar e questionar o emprego terapêutico dessas substâncias é indispensável para a promoção do uso racional de medicamentos, especialmente os ansiolíticos benzodiazepínicos. Este artigo de opinião objetiva abordar alguns fatores que possam levar os viventes a recorrerem à utilização de psicofármacos como forma de anestesia de suas angústias. É notório que a patologização da vida está intrincada com sua medicalização, reforçando a percepção de que o corpo é uma máquina que deve ser mantida em alta produtividade, erradicando o sofrimento psíquico de forma imediata, com a negação da permissão (ou da necessidade?) do sofrimento, da lida com as inquietações ou com as angústias. Diversos mecanismos podem estar envolvidos neste fenômeno, inclusive a indústria farmacêutica e suas diversas formas de (des)informação, produzindo não só mercadorias, mas, sobretudo, subjetividades, e induzindo à percepção de que os ansiolíticos constituem-se em objeto mágico revestido pelo brilho de recobrir a falta, o vazio existencial. Nadando contra a maré, urge pensar políticas públicas e educacionais que possam ir além do modelo medicalizante e perpetuador da anestesia do sofrimento.